quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Hoje falamos de: José Saramago e a Bíblia e o deputado



           Notícia de última hora: "Por vontade de um deputado europeu, o prémio nobel da literatura, José Saramago foi  expulso de Prortugal por ter criticado a Bíblia" 
In jornal X do dia 1 de Abril de 2010


   
 Não quero, obviamente, entrar em discussões de carácter metafísico ou religioso porque os meus conhecimentos nesse campo não são suficientes para grandes dissertações.

Como católico, se assim me posso classificar, dado que a minha prática não prima muito pela assiduidade, tenho que dizer que comungo de um moderado desagrado relativamente à forma como Saramago se referiu ao “Livro dos Livros. Não obstante, como interessado (q.b.) pelas coisas, e prezando a minha liberdade crítica tenho que reconhecer que, abrindo a Bíblia ao acaso, em particular nos livros do Antigo Testamento, é rara a página em que não sejam relatados casos em que mão do Senhor/Deus se abate, duramente, sobre os desobedientes. Fácil é encontrar, também, episódios de terror e crueldade como aquele conhecido sacrifício, felizmente não consumado, do filho de Abraão, a praga sobre os egípcios, em que nem as crianças foram poupadas, a destruição de Sodoma e Gomorra, os castigos cruéis para mulheres adúlteras e muitos outros. Não é, claramente, uma literatura que deva estar acessível a crianças nem mesmo a certos adultos. Não obstante é, também, um livro rico de ensinamentos, respeitado por centenas de milhões de pessoas.

Mas há que lembrar as condições particulares da escrita destes textos, e as condicionantes que envolveram a sua feitura. Condicionantes de tempo, espaço, raça e cultura, que numa leitura moderna temos que ressalvar. Por tal razão não me parecer correcta a análise, um pouco primária, de Saramago nem compreendo o seu gesto censório que faz recordar os tempos do lápis azul.

Todavia considero completamente ridícula, nada próprio de um deputado europeu, a afirmação de que deveria ser retirada a Saramago a cidadania portuguesa, proferida por Mário David, do PSD. (Se o Deus da Bíblia fosse o de hoje, este senhor deputado, por tão grande blasfémia lesa património, levaria um bom castigo, de certeza.)

Que tal recriar a inquisição, sr. Deputado, para castigar o herege Saramago?
Valha-nos o Deus de antigamente!



1 comentário:

  1. Se aprofundar a questão da religião constatará que existem inúmeras razões para as palavras do nosso Nobel. É certo que a religião é um tema particularmente sensível a muitas pessoas, visto tocar imenso nos valores de cada pessoa e de uma sociedade também. Contudo, não implica que a mesma não deva levar, e passo a expressão, abanões de forma a relativizar o tema. Se olhar para a história (e realço particularmente um texto no meu blog da autoria de Antero de Quental) encontrará inúmeras razões para as quais ele pensa dessa forma. Poderá não concordar, o livre-arbítrio afinal pertence-nos, contudo também não poderá negar que existem diferentes perspectivas de analisar a mesma realidade.
    O que em única análise toda esta situação revela é que o respeito pelas opiniões terceiras ainda não é bem fundado nos nossos valores e que quando certas questões morais nos tocam, o dogmatismo ainda perdura em nossas mentes.
    Como disse Francisco Franco, e passo a citar, "se a religião tem o dever de questionar a sociedade, a sociedade tem o direito de questionar a religião."
    Cumprimentos

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