quarta-feira, 13 de maio de 2009

Texto de Lino Pintado publicado no RB e JB de 13/05
O triste fim do Cine Teatro S. Jorge
Quando a Câmara de Anadia comprou o Cine Teatro S. Jorge esperava-se que, no mínimo, lhe estivesse destinada a utilização que sempre teve. Era o espaço dos principais acontecimentos culturais e recreativos do concelho. Era espaço de cinema, teatro, música, dança, festas, homenagens, debates e sessões de esclarecimento. Mas não, inexplicavelmente, depois de passar a propriedade camarária o projecto gizado para o Cine Teatro foi votá-lo ao mais completo desprezo e abandono. Agora agoniza, de forma deplorável, em ruínas onde proliferam ratos e outra bicharada, colocando em risco a saúde e segurança dos moradores vizinhos.
Com lotação para cerca de 500 pessoas, (o recém inaugurado tem 266) distribuída por plateia, balcão e camarotes laterais, o belo S. Jorge foi, durante largas décadas, o salão nobre de Anadia. Um espaço onde a sociedade Anadiense celebrava a cultura, a festa, a cidadania e a liberdade. Onde colectividades e escolas do concelho realizavam eventos. Onde representaram grandes actores e desfilaram figuras ilustres do país. Onde, a seguir ao 25 de Abril, partidos políticos apresentavam propostas para construção de uma democracia acabada de nascer. Ali, tudo acontecia. Era mais que um simples espaço. Era um pedaço de história viva, onde ficaram gravados muitos dos marcantes momentos do nosso passado. Era parte de nós.
Atempadamente propusemos a sua recuperação e conversão numa oficina de artes performativas para o ensino da música, teatro, dança e realização de espectáculos. Mas a tranquilidade da minha consciência facilmente é superada pela força da vergonha e tristeza que sinto enquanto Anadiense confrontado com o estado em que o S. Jorge se encontra.
Aquilo que começou como um atentado ao património histórico e cultural é agora também um atentado ambiental a que urge dar solução.
Mas a situação do S. Jorge configura ainda, mais uma esponja passada na memória colectiva do nosso concelho. Talvez a maior de todas.
É pena, porque uma comunidade com futuro é a que respeita o seu passado. Se apagamos a história, perdemos as referências que nos conferem identidade e estrutura. Perde-se sentimento de pertença a uma comunidade enquanto elo de ligação colectiva e razão de afectividade e enraizamento a um determinado espaço e grupo. No fundo, deixamos de saber o que somos, o que representamos, a que pertencemos.
Ora, a identidade colectiva de um povo é a sua essência e sem ela é muito mais difícil encontrar um rumo e programar estratégias de desenvolvimento.
Os que defendem que se abata o velho para construir o novo usam, muitas vezes, o perturbante argumento do progresso e da modernidade. Pura ilusão! Modernidade não é demolir ou votar ao abandono edifícios com valor histórico e arquitectónico pela simples razão de serem velhos. Isso tem outro nome: Ignorância. Modernidade é o contrário, é preservar e reabilitar edifícios históricos, recuperando-os, requalificando-os se necessário, tornando-os funcionais e optimizando essa funcionalidade ao serviço do futuro. Modernidade é dar futuro ao passado e saber conjugar e fazer conviver o antigo com o contemporâneo.
Já repeti algumas vezes esta argumentação. O suficiente para perceber que não é entendida e aceite pela maioria PSD na Câmara. Mas se é pedir muito que olhem para os bons exemplos de vários concelhos ou que pensem e cheguem a uma conclusão diferente daquela a que têm chegado e que tem sido nenhuma, então, pelo menos, resolvam urgentemente este grave problema ambiental. Está em causa a saúde e segurança pública. Ou também será pedir muito?

1 comentário:

  1. hoje passei por lá de propósito,e mais valia não ter passado,fiquei triste com aquilo que vi =/,mas enfim parabéns pelo blog =)

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